Aluno(s) – Bom dia, Sr. Afonso Cruz.
Seja bem-vindo à Escola EB2,3/S Miguel Torga, em Sabrosa. Somos alunos do 2º
ciclo e gostaríamos de colocar algumas questões sobre o escritor /ilustrador
que já recebeu muitos prémios, entre outras atividades que o senhor desempenha.
1. Gosta de ir às escolas e de contactar com os estudantes?
Resposta – Gosto muito, pois quando
tinha a vossa idade, estas iniciativas não ocorriam, não tendo conhecido nenhum
escritor. Aliás, só conheci pessoalmente escritores, quando comecei a escrever.
Quando vamos às escolas, aprendemos muito mais, são sempre experiências
positivas. Vamos percebendo o que é que os estudantes gostam e o que não gostam
de ler; vamos aprender também aprender a escrever melhor. Sabem, quando
escrevemos, ficamos muito embrenhados na história, é um ato solitário e ir às
escolas é como ter o retorno da nossa escrita.
2. Como descobriu a sua paixão pela escrita?
Resposta – Não sei. Eu nunca tinha
pensado em ser escritor. Mas sempre adorei ler, lia muito. É fundamental, para
qualquer futura área profissional, ter uma boa “dispensa” (= livros). São
necessários muitos ingredientes para se fazer algo (é como na cozinha). Devemos
encher a dispensa com leituras, viagens, arte, idas ao teatro… Não têm só de
ler para se ser escritor. Comecei a fazer filmes de animação porque estava a
tirar o Curso de Belas Artes e o meu primeiro trabalho de ilustração remunerado
tinha o objetivo de comprar uma moto. Fi-lo, ganhei dinheiro, mas nunca cheguei
a comprar a mota, nem tenho a carta para a guiar! Eu comecei a escrever por
acaso, porque me convidaram para trabalhar numa agência de publicidade. Os
publicitários trabalham sempre em dupla, há o diretor criativo e o redator de
publicidade, que era o meu caso, e como tinha muito tempo, enquanto o diretor
criativo trabalhava, eu ia escrevendo.
3. Que idade tinha quando escreveu o primeiro livro?
Resposta – Publiquei o meu primeiro
livro em outubro de 2008, tinha 36 anos, foi “A Carne de Deus — Aventuras de
Conrado Fortes e Lola Benites.”
4. De todas as obras que escreveu, qual é a sua favorita e porquê?
Resposta – Não tenho nenhuma obra
favorita. È como uma mãe que não consegue escolher entre o filho de que mais
ama. Quando me sento a escrever, tento sempre criar o melhor livro do mundo.
Todos os livros que escrevi são o reflexo daquilo que eu era naquela
determinada altura. Os livros que escrevo são diferentes uns dos outros,
escrevo para os mais jovens e para os adultos. A verdade é que passo mais tempo
com os livros que escrevo para adultos, porque são mais longos, mais complexos…
Tenho uma relação diferente com os livros, mas não necessariamente hierárquica,
no sentido de preferir um ou outro.
5. Qual foi o livro que lhe custou mais a escrever? Porquê?
Resposta – Eu gosto muito de escrever
e o verbo “custar” custa-me a usá-lo! O tempo de lazer é praticamente igual ao
tempo despendido a trabalhar, por isso nunca me custa escrever. Quando tenho
tempo livre, estou a ler, ou a desenhar, logo é o que faço quando também estou
a trabalhar. A parte mais aborrecida na literatura é a revisão (gralhas,
erros…)
6. Que conselhos daria a uma criança ou jovem que sonha em vir a ser
escritor?
Resposta – Não sei muito bem, depende
da idade e de muitas outras coisas. Se não for bom, um escritor terá muita
dificuldade em viver só da venda dos seus livros. Muitas vezes, os escritores
têm outra profissão, são jornalistas, professores, advogados… Nas visitas que
faço às escolas, a maioria dos rapazes quer ser futebolista, porque os miúdos
pensam que vão ganhar muito dinheiro, mas não é nada fácil. Se pensarmos no
Cristiano Ronaldo ou no Messi, o ordenado é apetitoso, mas é preciso ter muito
talento, trabalhar muito, fazer muitos sacrifícios e ter sorte… Um jogador de
futebol de uma equipa distrital não ganha muito… Há autores que ganham muito
dinheiro, com os sues livros, mas o contrário também acontece, como já referi.
O mais importante é tentar ser feliz, fazer-se o que se gosta, não é o
dinheiro! Claro que o reconhecimento, o mérito literário são bons e a partilha,
como nas restantes artes, é uma sensação positiva.
7. Sabemos que também é ilustrador. Qual foi a primeira obra que ilustrou?
Resposta – Não me lembro. Tenho dois
filhos e não me lembro do primeiro livro que o meu filho mais velho leu. Ilustrei
um manual escolar e fiz algumas ilustrações para revistas. Ilustrei o primeiro
livro para crianças ( “Livro com Cheiro a Baunilha” de Alice Vieira) em 2007.
Foi por acaso, tinha enviado o meu C.V.
para algumas editoras, e um dia recebi um e-mail
da Texto Editores (na altura, agora chama-se Grupo Leya) a convidar-me para a
ilustração desses livro. A partir daí, não parei mais. Era convidado porque,
além de gostarem do meu trabalho, sempre cumpri os prazos de entrega dos
trabalhos.
8. E sobre os filmes de animação, como surgiu esse trabalho?
Resposta – VER MELHOR ESSA
RESPOSTA!!!!! Como já tinha dito antes, ainda era estudante universitário
quando fiz o meu primeiro trabalho de animação. Hoje em dia, faz—se trabalho de
animação com vídeo, mas antes era como no cinema (o que continua a ser o
melhor!). Para se ter um segundo de animação, são necessários vinte e cinco
desenhos em vídeos e vinte e quatro desenhos em cinema. Um filme de animação dá
muito trabalho, são necessárias resmas de papel e centenas de desenhos.
Curiosamente, os animadores são pouco conhecidos, ao contrário dos
realizadores…
9. A) Como se sentiu quando ganhou o primeiro Prémio por ter escrito um livro?
B) Quantos livros tinha publicado nessa altura?
Resposta – A) Senti-me muito bem! Os
prémios são sempre gratificantes. Julguei inicialmente, quando ganhei o meu primeiro
prémio que iria vender mais livros, ter mais leitores, mas não foi bem assim. O
lema dos livreiros, há uns anos atrás, era “Se
o teu livro não se vender em três meses, volta para a prateleira.”; hoje em
dia, é o seguinte: “Se o teu livro não se
vender numa semana, volata para a prateleira.” Sabem, em Portugal, são
destacados, diariamente uma média de sessenta livros! È claro que um Prémio faz
viver mais tempo o livro, além do reconhecimento, como já disse, é muito
gratificante. Também há prémios que têm uma recompensa monetária, por exemplo o
Prémio Leya, para livros inéditos, é de cem mil euros.
B) Na altura em que ganhei o Grande
Prémio de Conto Camilo Castelo Branco com a “Enciclopédia da Estória Universal” (1º volume), em 2009, tinha dois
livros publicados.
10. Onde se inspira para criar músicas, filmes de animação e livros?
Resposta – Tudo serve de inspiração. Costumam perguntar-me isso, porque
vivo no campo, no Alentejo, mas não é só o campo que me inspira. Por vezes, são
os pequenos pormenores do dia a dia que nos alertam para a escrita.
11. Como surgiu a banda Soaked Lamb (“borrego ensopado”)? E porquê esse nome?
Resposta – Na altura, era sócio de um bar. Para preparar uma festa, decidi
compor duas ou três músicas para essa festa (que acabou por não acontecer).
Guardei-as. Entretanto, um amigo meu – sonoplasta - sugeriu que gravássemos um
disco e alinhei na ideia. Começámos a gravar, fui convidando mais pessoas para
o grupo que veio a chamar-se Soaked Lamb.
12. O que pensa dos trabalhos que aqui apresentámos – cartazes, folhetos,
música tocada com flautas?
Resposta – São todos muito bons, gostei muito. Foi simpático terem
pesquisado, trabalhado para conhecer a minha obra.
13. Porquê fazer a sua própria cerveja?
Resposta – Comecei a fazer cerveja há vinte anos, em Lisboa. Gosto muito
de compreender como as coisas são feitas – faço pão, queijo e cerveja. Um dia,
li um livro de um monge beneditino que dizia que fazer cerveja era uma forma
filosófica de compreender a Criação e a Natureza. Fui-me informando,
pesquisando e fiz cerveja! O bom disto tudo é o facto dela ser artesanal.
14- O que pensa do Novo Acordo Ortográfico?
Resposta – Ainda hoje, escrevo com a antiga grafia, mas mais por preguiça.
Não tenho nenhum conhecimento suficientemente elevado em Linguística para ter
uma opinião válida. Esquecemo-nos que o português que escrevemos foi sempre
evoluindo e sofrendo alterações. Eu penso que mudar é bom, a mudança não deve
ser assustadora.
Sem comentários:
Enviar um comentário