Partilhas de experiências de alunos e professores para comemorar o SMAL
Admirável mundo novo
Aldous Huxley
Admirável mundo novo de Aldous Huxley, publicado em 1932, fala-nos
de temas como a manipulação genética, a clonagem, o narcisismo, o consumismo e
o uso de drogas. Apresenta-nos uma civilização moderna e funcional, dominada
pela tecnologia e totalmente desprovida de alma, espírito, mas onde impera o
prazer e não existe dor nem sofrimento.
Nesta viagem, que é um misto de fantasia e sátira a uma
futura sociedade tecnológica, somos transportados para um mundo em que os seres
humanos são organizados por um sistema de castas obtido graças à manipulação
genética de embriões. Os seres humanos são produzidos em série em centros de
incubação e condicionamento e, a partir de cada óvulo são originados noventa e
seis gémeos, formando grupos padronizados de cidadãos que cumprem a sua função
na sociedade.
A estabilidade social é o objetivo principal
das pessoas que governam este “mundo novo”. Não há velhos nem doentes, mas os
adultos são condicionados para não sentirem qualquer emoção, com a ajuda de soma, um misto de cocaína, heroína e
álcool, cuja utilização se torna indispensável para a não expressão de emoções.
As crianças “nascem” em centros de incubação e de
condicionamento e os infantários são salas de condicionamento neopavloviano
onde crescem e são treinadas para se transformarem em adultos funcionais, Alphas ou Betas, desprovidos de espírito para nunca sentirem desejo de
liberdade ou de serem diferentes.
Apresento apenas este
excerto:
«As pessoas são felizes, conseguem o que
querem e nunca querem aquilo que não podem obter. Sentemse bem, estão em
segurança, nunca estão doentes, não receiam a morte, vivem numa serena
ignorância da paixão e da velhice, nem filhos, nem amantes, pelos quais
poderiam sofrer emoções violentas, estão de tal modo condicionados que,
praticamente não podem deixar de se portar como devem. E se por acaso alguma
coisa correr mal há o soma, que o senhor atira friamente pela janela em nome da
liberdade, Sr. Selvagem, a Liberdade!
-Pôs-se a rir.- O senhor espera que os Deltas saibam o que é a liberdade! E
agora espera que os Deltas sejam capazes de compreender Othelo! Meu caro amigo!
»
Estas palavras fazem-nos pensar! Afinal, onde está a
felicidade, o sentido da vida? Naquilo que ambicionamos, na perfeição? Ou será
que está apenas nas pequenas coisas imperfeitas do dia a dia que temos e na
liberdade de escolhermos o rumo das nossas vidas? Será preciso muito para
sermos felizes ou a felicidade está já dentro de nós?
Projeto de
Leitura
Projeto de
Leitura
A Fúria das Vinhas de Francisco Moita
Flores
A Fúria das Vinhas
é um romance que narra a luta intensa, que grandes e pequenos vinicultores do
Alto Douro travaram contra a filoxera.
A narrativa
descreve o ambiente psicológico da época, das suas gentes, crenças, medos e
esperanças e, em simultâneo, conta a história de uma grande mulher -a
Ferreirinha- D.Antónia, que com grande força, determinação e trabalho nunca
virou as costas à sua gente, nem tão pouco à praga que, gradualmente, ia
destruindo a vinha.
Paralelamente ao combate da filoxera, surge a morte de
jovens raparigas que as gentes da terra atribuíam às bruxas, ao diabo e aos
lobos, tão famintos quanto elas, mas que um jovem recém-bacharel, Vespúcio
Ortigão, cujos estudos suportados por D.Antónia, começa a investigar por sua
conta e risco.
Em toda a obra, a perseverança de D. Antónia, já idosa, é
característica psicológica mais marcante. Ela não desiste de lutar, enfrentando
gente importante e vaidosa do
meio político e contrariando grandes
proprietários de quintas durienses. Neste romance, o autor retrata a realidade
política e da alta sociedade da altura de um modo brilhante: a vaidade e o ócio
imperam; os políticos não têm ideias, são apenas fanfarrões sem sentido de
serviço público, deixando o Douro abandonado à sua sorte. De igual modo,
através da morte das raparigas, o autor fala-nos dos avanços de investigação
criminal num momento histórico em que se separa a acusação, por confissão por
tortura, e a acusação por prova. Nesta última, mesmo não havendo confissão, o
criminoso é acusado e preso. Esta nova forma de investigação é vista, na época,
como uma loucura porque as crenças, bruxarias e o oculto estão enraizados na
cultura do país, onde a medicina é antiquada, com poucos conhecimentos do
avanço científico e dos novos instrumentos da experiência. É D. Antónia que,
confiando na tese e factos constatados que lhe foram confiados por Vespúcio
Ortigão, seu protegido, que com o seu poder económico e ligações sociais, apoia
logisticamente na compra de um microscópio essencial à obtenção da prova para
incriminar o culpado e solucionar o crime. Foi, de igual forma, recorrendo a
novas técnicas de enxerto das vinhas, inovadoras e desconhecidas para as gentes
do Douro, que a Ferreirinha conseguiu vencer a praga da filoxera na segunda
metade do século XIX, e reerguer as vinhas e as gentes do Douro da morte e da
miséria total.
Pessoalmente, esta obra de Francisco Moita Flores,
despertou em mim a admiração e grande respeito por D. Antónia Ferreira, que
amou e dedicou toda a sua vida às suas origens e lutou incessantemente pelos
seus ideais. O romance proporciona uma leitura prazerosa e incessante, uma vez
que se encontra bem escrito, enriquecido por uma vasta cultura que o autor
soube tão bem pormenorizar e valorizar, transportando-me, nos meus diversos
sentidos, para todos os ambientes narrados.
“ O Douro era o ventre materno que a aconchegava no colo
quando sofria ou era feliz. Dona Antónia sabia. Ninguém é feliz para sempre. A
felicidade é uma pontuação, não é uma frase. E só a pode sentir no auge das
emoções quem sofreu intensamente.”
Clara Loureiro 12ºB nº2