quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Teresa Calçada

<strong>Domínio</strong>: Rede Nacional de Bibliotecas Escolares <br /><strong>Missão</strong>: Promover a leitura
Por

O mundo de Teresa Calçada é feito de palavras mas, no caso, são os números que dizem tudo. Há 13 anos, altura em que esta professora de Filosofia foi coordenar o Gabinete do Programa Rede de Bibliotecas Escolares, eram poucas as bibliotecas dignas do nome. Hoje existem 2100. Quase todas as escolas, do básico ao secundário, contam com um espaço vivo e vivido onde o livro tem destaque, mas nem sempre protagonismo. “Continua a haver livros, mas eles coabitam com redes de informação e conhecimento. As bibliotecas do século XXI são espaços multimédia, centros pedagógicos de incentivo à leitura, possível através de diferentes recursos”, explica a coordenadora do projecto, justificando a presença de computadores, televisões, jornais e revistas. “O ambiente não é semelhante ao de uma sala de aula”, diz, e os catálogos que tem sobre a mesa provam isso mesmo. “Não são escolas da Finlândia”, diz en passant, enquanto enumera as valências que fazem das bibliotecas um espaço fundamental na relação aluno-professor. “Somos mutantes nesta geração digital, mas os nossos alunos não. Por isso, temos de adoptar uma atitude pegagógica que acompanhe a aprendizagem.” É preciso contrariar a ideia de que as bibliotecas são um sítio cinzento e (demasiado) silencioso: “Se não forem úteis, as bibliotecas deixam de ser precisas. E elas só são úteis se tiverem o que os alunos precisam.” Seja a Apologia de Sócrates ou a ligação ao Facebook.
 
Realização: Joana Lestouquet  .  Fotografia: Pedro Bettencourt  .  Maquilhagem: Isabel Marcelino  .  Agradecimentos: MaxMara, MAX&Co, Susana Bettencour

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Autor do mês Miguel Torga


O "nosso" MIGUEL TORGA

 
Nasceu em S. Martinho de Anta, concelho de Sabrosa, em 12.8.1907 e faleceu em 17.1 1995, sendo sepultado na aldeia natal. De seu nome completo Adolfo Correia da Rocha, adoptou o pseudónimo de Miguel Torga porque "eu sou quem sou.
Torga é uma planta transmontana, urze campestre, cor de vinho, com as raízes muito agarradas e duras, metidas entre as rochas. Assim como eu sou duro e tenho raízes em rochas duras, rígidas, Miguel Torga é um nome ibérico, característico da nossa península"... Feita a 4ª classe com distinção, o pai disse-lhe: "tens de escolher... aqui não te quero. Por isso resolve: ou o seminário de Lamego ou Brasil". Daí a pouco lá ia o rapaz rumo a Lamego: "ía na frente, de fato preto, montado, a segurar o baú de roupa que levava diante de mim. Meu pai e minha mãe vinham atrás, a pé, ele com os ferros da cama às costas e ela de colchão e cobertores à cabeça", contará mais tarde em A Criação do Mundo. Aí esteve um ano. Chegou a ajudar à missa, durante as férias, com grande enlevo para a mãe. Mas a decisão era outra. O Brasil era a única saída. Partiu em 1920. "Ficou em casa de uma tia que lhe impôs como obrigação, em todos os dias carregar o moinho, mungir as vacas que davam leite para a casa, tratar dos porcos, prender as crias das vacas, curar bicheiros e procurar pelos matagais as porcas e as reses paridas". Um ano depois estava de regresso a Portugal. O tio prontificara-se a fazer dele um médico, custeando-lhe os estudos, em Coimbra. Aos 24 anos estava formado. Especializou-se em Otorrinolaringologia. Começou por exercer clínica geral na sua aldeia. A experiência foi negativa. Instalou-se em Leiria, de que gostava. Mas por causa das tipografias, optou por voltar a Coimbra. Depois de uma vida amorosa repartida, pelos sítios, por onde passava, acabou por casar pelo civil com a Prof. universitária (de Coimbra), a belga André Cabrée: "vou tentar ser bom marido, cumpridor. Mas quero que saibas, enquanto é tempo, que em todas as circunstâncias te troco por um verso" (confessará em A Criação do Mundo, V). Entre a passagem pelo seminário e a ida para o Brasil ainda foi caixeiro num estabelecimento comercial, no Porto. Foi sempre um homem, socialmente difícil. Pouco comunicativo, falando com mais convicção do que razão. "Uma das facetas menos atraentes do carácter de M.T. é a sua forretice. Chega a comprar livros com exemplares dos seus. De Leiria a Coimbra viajava sempre em 3ª classe. Foi ao estrangeiro, por diversas vezes, percorrendo boa parte da Europa, aproveitando sempre boleia de dois amigos. Quase não oferece livros a ninguém, recusa dedicatórias e autógrafos, nunca confiou o seus livros a nenhuma editora, preferindo sempre "edições do autor", com pequena tiragem e no papel mais barato possível." (Antônio Freire, in Lendo M.T.). Na gráfica onde fazia os seus livros, ao seu amigo Pe. Valentim que lhe ajudava nas tarefas tipográficas fazia "um preço cristão". Na clínica usava sempre o mesmo ritual: uma bata branca. Só comprou televisão após o 25 de Abril para ouvir as notícias. Não tinha telefone em casa para não lhe interromperem o trabalho (José C. Vasconcelos, in JL, 6-12 de Junho de 1989). O material que "manda para a tipografia leva vários remendos colados uns sobre os outros. Chegam a ter umas sete e oito colagens. Por causa de uma vírgula é capaz de passar uma noite sem dormir". Dedicava-se à caça, algumas vezes, nos montes da sua região. Quando ali trabalhava, chegava da caça e dava consulta com a roupa com sangue que trazia dos montes. Era a mãe que lhe chamava a atenção. Com a entrada para a Universidade, em 1928, deu início à sua obra, publicando dois livros: Ansiedade (que logo esgotou). Somente voltou a ser mencionado na Antologia Poética (1981). Rampa (1930) teve um destino idêntico. Os seus adversários da época chegavam a acrescentar-lhe um T, antes do título. Ambos esses livros saíram com nome próprio. Em 1936 aparece, pela primeira vez com o seu pseudónimo em O outro livro de Job, de que faz apenas edições de 300 exemplares. Desde aí até fins de 1994 escreveu uma obra vasta e marcante, em poesia, prosa, teatro. Alguns dos seus livros, como Bichos tiveram já mais de vinte edições. Deixou 16 volumes dos seus Diários. Muitas obras suas foram traduzidos nas principais línguas de todo o mundo, incluindo em chinês. Foi muitas vezes apontado como sério candidato ao Prémio Nobel da Literatura. Ganhou o prémio Luís de Camões, no valor de 10 mil contos (1989). Chegou a ser preso pela PIDE. Algumas vezes teve vontade de sair do país: "Mas abandonar a Pátria com um saco às costas? Para poder partir teria de meter no bornal o Marão, o Douro, o Mondego, a luz de Coimbra, a biblioteca e as vogais da língua. Sou um prisioneiro irremediável numa penitenciária de valores tão entranhados na minha fisiologia que, longe deles, seria um cadáver a respirar". Queriam fazer dele um socialista, quando se deu o 25 de Abril de 1974. Nunca se filiou em partido algum: o meu partido é o mapa de Portugal. Sobre a descolonização escreveria: fomos descobrir o mundo em caravelas e regressámos dele em traineiras. Afanfarronice de uns, a incapacidade de outros e a irresponsabilidade de todos deu este resultado: o fim sem a grandeza de uma grande aventura. Metade de Portugal a ser o remorso da outra metade. Em 1996 foi fundado o Círculo Cultural Miguel Torga, com sede em S. Martinho de Ama.
Poeta, ficcionista e ensaísta. É o pseudónimo literário do médico Adolfo Correia da Rocha, nascido em S. Martinho de Anta, aldeola perdida na província nordestina de Trás-os-Montes. Aos 13 anos abandona o Seminário de Lamego para embarcar para o Brasil, onde vive cinco anos com um tio, trabalhando numa fazenda (Minas Gerais). Regressando a Portugal, completa em três anos o curso dos liceus, matriculando-se depois na Faculdade de Medicina de Coimbra, onde, em 1933, finaliza o curso. em 1939, fixa-se definitivamente em Coimbra. A partir de 1927, Torga associa-se a alguns camaradas (José Régio, João Gaspar Simões, Casais Monteiro, Vitorino Nemésio, Branquinho da Fonseca e Carlos Queiroz entre outros) que, através da revista Presença aderiram à Revolução Modernista. Em 1930, porém, rompe definitivamente com a Presença por duas vezes mais, intentou poetizar em grupo (as revistas Sinal, em 1930 e, mais tarde, Manifesto), mas acabou por desistir quando concluiu que a autenticidade poética é demasiado sublime e exige o máximo de pureza e fidelidade pessoal, Daí por diante, no seu monasticismo conimbricense, intentará "ser de todos", em vez de "camarada de poucos". Poesia de resistência e cântico de liberdade, Diário (doze volumes publicados desde 1941) de "um contemporâneo de Hesíodo", no dizer de Sophia de Mello Breyner, que é também um contemporâneo da "Morte de Deus" e do esmagamento do Homem por totalitarismos ferozes, toda a obra de Torga anseia pela descoberta de caminhos novos para o reino das coisas belas e possíveis, incluindo o amor entre os homens. Orfeu rebelde, e possíveis, incluindo o amor entre os homens. Orfeu rebelde, Torga é, no dizer de David Mourão-Ferreira, a "reencarnação de um poeta mítico por excelência - daquele que vive na intimidade das forças elementares (a terra, o sol, o vento, a água) para celebrá-las com o seu canto - e alto exemplo de constante rebeldia, numa atmosfera que pretende asfixiá-lo".
 
Prosa:
Pão Ázimo, 1931
A Terceira Voz, 1934
A Criação do Mundo, os Dois Primeiros Dias, 1937
O Terceiro Dia da Criação do Mundo, 1938
O Quarto Dia da Criação do Mundo, 1939
Bichos, 1940
Contos da Montanha, 1941
O Senhor Ventura, 1943
Um Reino Maravilhoso, 1941
Trás-os-Montes, 1941
Conferência, 1941
Rua, 1942
Portugal, 1950
Pedras Lavradas, 1951
Novos Contos da Montanha, 1944
Vindima, 1945
Romance:
Traço de União, 1955
O Quinto Dia da Criação do Mundo, 1974
Fogo Preso, 1976
O Sexto Dia da Criação do Mundo, 1981
Teatro:
Terra Firme, 1941
Mar, 1941
O Paraíso, 1949
Sinfonia, 1947
Poema Dramático, 1946
Poesia e Prosa:


Diário (1º Volume), 1941
Diário (2º Volume), 1943
Diário, (3º Volume), 1946
Diário, (4º Volume), 1949
Diário, (5º Volume), 1951
Diário, (6º Volume), 1953
Diário, (7º Volume), 1956
Diário, (8º Volume), 1959
Diário, (9º Volume), 1964
Diário, (10º Volume), 1968
Diário, (11º Volume), 1973
Diário, (12º Volume), 1977
Antologia Poética, 1981.